“Nunca imaginei uma situação destas entre os jogadores, ainda por cima num desporto que tem muitos estrangeiros”, foi assim que Philipe Oliveira, jogador do Famalicense, comentou o caso de insultos racistas e xenófobos porque passou no jogo do último domingo, entre o Famalicense e o Juvemaia.
Philipe Oliveira, que está no Famalicense desde 2020, referiu que “entre algumas bocas e ‘xingamentos’”, o jogador do Juvemaia terminou com a frase: “volta para a tua terra”.
Como te sentiste naquele momento? “Senti-me mal. Não estou cá à toa. Estou cá para trabalhar, divido a vida entre trabalho e o Basquetebol”.
Afirmando que “vindo de um jogador acaba por afetar muito mais do que qualquer outra coisa”, Philipe Oliveira lamenta que o árbitro não tenha tomado uma atitude…. “ele ficou em campo, nada aconteceu”.
O árbitro ouviu? Deu-te alguma justificação para não tomar uma atitude? “Basicamente o árbitro veio-me perguntar o que tinha acontecido para eu estar alterado, visto que não é o normal. Eu expliquei o que ele disse e que me tinha mandado voltar para minha terra. O árbitro disse que não tinha percebi isso”, recordou Philipe Oliveira, que adiantou: “depois o próprio jogador foi até ao árbitro confirmar o que disse e que não tinha problema nisso porque também lhe chamam de velho…”.
“Só que eu a única coisa que disse quando lhe dirigi a palavra foi: “qual a necessidade de fazer isso?!”, isto logo a seguir a ele ter dado um encontrão no meu companheiro de equipa”.
Já te tinha acontecido alguma vez algo parecido desde que estás no Famalicense? “Já tinha acontecido uma vez na bancada, um adepto da equipa contrária chamar-me de macaco. Meus familiares e amigos é que escutaram da bancada, pois eu dentro do campo não consigo ouvir nada”, disse Philipe Oliveira, que referiu que “entre jogadores foi a primeira vez e, confesso, que nunca me passou pela cabeça passar por uma situação destas. O povo português é o povo que mais emigra, quase todo português tem pelo menos um familiar emigrado. Passamos dificuldades aqui, estamos a querer viver nossa vida, a trabalhar, a jogar, não queremos o que é dos outros. Por isso não passa pela cabeça que possamos um dia ouvir isso”.
Philipe Oliveira recebeu, e continua a receber, o apoio da equipa “a equipa sempre esteve comigo. A situação não foi percebida por todos, mas todos os que ouviram na hora me apoiaram. Inclusive alguns jogadores da outra equipa demonstraram-me o seu apoio”.
O Famalicense e Philipe Oliveira já fizeram a denúncia para a Federação Portuguesa de Basquetebol e o caso seguirá agora os tramites, sabendo-se que o Conselho de Disciplina não tem, por norma, “mão leve” nestas situações.
Dois dias passados a revolta e a tristeza já passaram? “Não, ainda estou muito chateado. Lógico que o apoio todo que tenho tido conforta demais, mas toda esta situação é revoltante, é uma sensação de grande de impotência, tristeza…”,
De referir que Philipe Oliveira já está em Famalicão há vários anos “sinto-me em casa aqui” e adiantou que “gosto da cidade, amo estar a viver cá. Vivo em Famalicão desde que cheguei à Portugal”.