“Saio satisfeito da etapa. Assumi os meus riscos, prefiro fazer alguma coisa, do que não ir à luta. Perdi a ‘guerra’, mas pelo menos tentei”, disse João Matias, ciclista de Barcelos que alinha na Tavfer/Mortágua/Ovos Matinados, no final da etapa de ontem, que ligou Viana do Castelo a Fafe.
O ciclista barcelense integrou a fuga do dia, venceu as duas Metas Volantes e assumiu a liderança da Classificação por Pontos… mas no final foi Scott McGill que levou a melhor na luta, já que cortou a meta na terceira posição e arrecadou pontos que o isolaram na liderança da Camisola Verde…
“A Camisola Verde está, praticamente, entregue. Matematicamente é muito difícil chegar ao Scott McGill… Para o ultrapassar tinha de ganhar na Senhora da Graça e não sendo impossível, é pouco provável”, disse João Matias.
O ciclista de Barcelos refere que “eu hoje (ontem) tinha de fazer alguma coisa, tentei e sei que o que fiz foi muito positivo. Estar na fuga foi muito bom, não era o principal objetivo, mas numa corrida muito louca tive oportunidade de entrar no grupo e consegui manter-me lá”.
“FOI MUITO BOM ANDAR NA FUGA”
Afirmando que “foi muito bom andar na fuga”, João Matias salientou que “consegui estar em destaque e assim mostrar a camisola da Tavfer/Mortágua/Ovos Matinados, dar visibilidade à equipa e aos patrocinadores”.
Estas duas últimas etapas também eram importantes para a luta pela Camisola Verde? “Eram determinantes e quem me conhece sabe que eu sou ‘antes partir do que vergar’. Não baixei os braços depois de perder a camisola, fui à luta e hoje, durante a etapa, consegui estar na frente da Classificação por Pontos. Não estava à espera que o Scott McGill recuperasse na subida de Golães. Ele é um ciclista de grande categoria e acaba por vencer a ‘guerra’. Penso que a Camisola Verde sai valorizada…independentemente de quem ganhar. Foi mesmo a história mais bonita desta Volta a Portugal, porque a luta pela Classificação Geral tem sido monótona”.
Esta tem sido a Volta mais emocionante para ti? “Sem dúvida. Tem sido a Volta e a época mais emocionante da minha carreira. Depois de ter ficado de fora na época passada, este ano queria mostrar que tinha categoria e capacidades para cá estar e penso que o tenho demonstrado”.
SUBIDA À SENHORA DA GRAÇA: “ETAPA TRANQUILA, MAS…”
Este domingo realiza-se uma das etapas míticas da Volta a Portugal com a subida ao Alto da Senhora da Graça. Não sendo uma etapa totalmente ao encontro das características de João Matias, o barcelense refere que “tudo depende”.
“Hoje é um dia, em princípio, tranquilo para mim, mas se à partida o Gustavo me ‘picar’… posso tentar entrar na fuga. Penso que ganhar não, mas se o João Matias puder dar mais um bocadinho, então é isso que farei”.
João Matias, o ciclista profissional é também diretor da equipa de Formação da ACR Roriz (Landeiro/KTM/Matias&Araújo/Frulact) e é tido como um exemplo a seguir…ainda mais pelo que tem feito, concretamente, nesta edição da Volta a Portugal…Para além dos resultados, da luta e da resiliência, João Matias mostra um enorme fair-play e respeito pelos adversários.
O HERÓI E UM EXEMPLO
“Acredito que sim… mas não tenho muito a noção do que fiz e estou a fazer. Não faço isto para ser exemplo. Faço-o porque me guio pelas regras do Ciclismo, do respeito e do fair-play. Foi o que os meus pais me passaram e eles foram um bom exemplo para mim. Penso que estas regras fazem falta ao desporto”, disse João Matias, que salientou que “noto que muita gente me manda mensagem, eu valorizo e agradeço isso… são muito importantes para mim e eu fico sem palavras para responder a isso”.
Durante a competição foi frequente ver João Matias a dar os parabéns aos adversários, mesmo os diretos como o Scott McGill e a emocionar-se com as vitórias, suas e de colegas de profissão…sendo apelidado mesmo como um homem de ‘coração grande’.
FAIR PLAY E ‘CORAÇÃO MOLE’
“Sempre vivi o Ciclismo assim, acho que antes de coração grande, sou mais um coração mole. Ontem (sexta-feira) o Luís Gomes, que é um amigo de há vários anos, ganhou e eu fiquei muito feliz por ele … aliás conseguiu mesmo arrancar-me umas lágrimas”, lembra João Matias.
Depois há o Scott McGill: “é o maior adversário de toda a minha vida. Nunca tive uma batalha assim tão aguerrida, mas há um grande fair play entre nós. Somos os primeiros a estender a mão quando um de nós ganha. Hoje (ontem) na meta tive que lhe ir dar um abraço porque ele esteve melhor. Isto faz parte de mim, é o que eu sou”.