“É triste, mas acima de tudo é muito estranho não estarmos a realizar o Circuito que dá a Santa Marta um colorido diferente neste dia” disse António Antunes, da Escola de Ciclismo de Santa Marta ao lembrar o Circuito que ia para a sua 45.º edição.
O Circuito de Santa Marta Portuzelo, prova organizada em conjunto pela Associação de Ciclismo do Minho e pelo Grupo Desportivo do Centro Paroquial de Santa Marta de Portuzelo, destinado aos escalões de Pupilos/Benjamins, Iniciados, Infantis, Juvenis, Cadetes e Juniores, deveria ter-se realizado hoje, mas a pandemia que afetou o mundo obrigou ao adiamento para 2021.
Esta é a primeira vez desde a sua criação que o circuito não vai para a estrada “o circuito já ia para a sua 45.ª edição e nunca foi adiado. Foi a primeira vez” referiu aquele responsável, que acrescentou que “é muito estranho… estamos habituados a azáfama do dia, é um dia muito trabalhoso, mas é uma festa. Normalmente acordamos cedo para organizar tudo para as corridas e hoje…nada”.
“É MUITO ESTRANHO”
António Antunes confessa “sentimo-nos tristes, mas sobretudo é tudo muito estranho. Claro que já estávamos a contar que não o poderíamos porque infelizmente a pandemia assim o obriga, mas não deixa de nos entristecer”.
De resto, António Antunes até passou pelo local das provas… “aos sábados de manhã realizamos o treino conjunto dos Cadetes e Juniores, então fui até ao centro, fui à sede e ver tudo parado é muito triste. Falta aquela chama que o ciclismo e os ciclistas dão, aquela alegria própria de uma prova de ciclismo”.
“Andamos meio perdidos com tudo isto. São muitos anos ligados ao ciclismo, a lidar com os miúdos e agora nada”.
CAMPEONATOS NACIONAIS: “NÃO VAMOS”
Do calendário de 2021 do Ciclismo de Estrada realizam-se apenas três corrida: duas de Juniores (Fafe e Barroselas) e uma de Cadetes (Cantanhede). Todo o calendário de oito de março a finais de agosto foi suspenso, não havendo grandes expetativas quanto ao regresso das corridas.
A Federação Portuguesa de Ciclismo agendou, entretanto, o Campeonato Nacional para 19 de setembro, em Castelo de Vide, mas apenas para a vertente de Contrarrelógio.
António Antunes garante que “nós já decidimos não vamos” e explicou “não vamos fazer uma viagem de 700 quilómetros, com todas as despesas inerentes, toda a logística, para os atletas fazerem uma corrida de 17 km. Se a FPC apoiar estes escalões nos mesmos moldes que apoia os Sub-23 e os Elites ainda poderemos pensar. Mas agora andar a fazer coisas à custas da carolice dos diretos dos clubes não”.
“Não percebo porque não pagam a diária aos atletas de Juniores e Cadetes, mas pagam aos Sub-23 e Elites. Os adultos comem e os miúdos não comem? Ou nos dão condições para ir a Castelo de Vide, ou nós não vamos”.
António Antunes lembrou ainda que “quando os Campeonatos Nacionais são em Castelo de Vide nunca vamos e desta vez não será exceção”.
De resto, a Tensai/Sambiental/Santa Marta foi convidada para participar, no fim do mês, numa prova de dois dias em Espanha “e nós preferimos ir a Espanha correr do que fazer a viagem a Castelo de Vide para fazer um Contrarrelógio”.
Interrogado sobre o que mais preocupa, António Antunes referiu que “o que nos preocupa acima de tudo é que o clube não acabe. É um clube com um historial enorme. Temos bases para que continue a existir e trabalhar com os miúdos no ciclismo. Claro queremos não perder miúdos. Claro que sabemos que vamos perder, mas penso que os miúdos que vão abandonar são aqueles que já o iriam fazer na mesma. São aqueles miúdos que não sentem a paixão pelo ciclismo. Os que gostam mesmo da modalidade não vão abandonar”.
O diretor da EC Santa Marta adiantou que “interessa-nos, sobretudo, que o clube continue e a saúde de todos os atletas e das pessoas. Aliás foi por isso que nós fomos dos últimos a retomar a atividade. Percebemos que tínhamos tempo porque não ia haver corrida e, por isso, não valia a pena andar a arriscar a saúde dos atletas”.
António Antunes mostrou-se ainda preocupado com a questão dos Juniores de segundo ano.
“Na nossa equipa apenas o Leonardo Mendes é Júnior de primeiro ano e preocupa-me a situação dos outros três atletas. Sei que a FPC disse que esse era uma questão fácil de resolver, que pode criar uma regra e dar ao escalão mais um ano… mas em que moldes? Eles têm que ter corridas para se poderem mostrar e ter um futuro no ciclismo, caso contrário vamos perder aqui muitos ciclistas”.