“Estas medidas refletem uma total falta de cultura desportiva e de apoio ao desporto, o que, infelizmente, são situações crónicas no nosso país”, foi assim que António Faria, presidente do BC Barcelos, se referiu às medidas anunciadas pelo governo e que obrigam os clubes a suspender os treinos e os jogos por tempo indeterminado.
António Faria lembra que “o desporto é um sector que anda ‘pendurado’ em vários ministérios e secretarias de estado ao longo dos tempos, o que não ajuda nada. Em Portugal também há futebol, mas há muito mais do que futebol e é preciso ter um olhar mais abrangente sobre todo o desporto. Infelizmente, vivemos num país que não incentiva, nem apoia o desporto”.
Quanto à atual situação, o presidente do BC Barcelos referiu que “com este estado da pandemia nós não podemos fazer muito mais…estamos cansados de lutar e até desanimados” e adiantou: “nós estamos a seguir as regras impostas pela DGS desde a primeira hora e até aqui as coisas correram bem, não conseguimos perceber porque temos de parar, mas é o que é e estas são as situações que não conseguimos contornar”.
ÉPOCA PERDIDA
“Para a Formação o ano passado foi um ano perdido e esta época também está perdida. Não sabemos se vai chegar a arrancar e em que moldes, mas já não conseguiremos recuperar o tempo perdido. Enquanto dirigente dou a época por perdida. Os clubes já estavam a passar por dificuldades desde março de 2020 e esta época não veio ajudar nada. Agora novo confinamento, quando tudo isso passar é quase como começar do zero. Vamos ter um trabalho árduo para voltarmos a ser o que os clubes eram antes disto tudo”.
O BC Barcelos perdeu mais de metade dos atletas desde o aparecimento da pandemia e António Faria teme que com este confinamento, que nem tem data para terminar, o número aumente.
“Com certeza que vamos perder atletas com este novo confinamento. Numa primeira fase e no nosso caso perdemos acima dos 50 por cento, o que é muito. Não sei como vai ser agora, mas acho que vai ser muito complicado até voltarmos ao ponto em que estávamos antes” disse António Faria, que considera que “a época da Formação está perdida e parte do trabalho também”, mas garante não desistir.
No caso do BC Barcelos, este inicio do mês de janeiro estava a ser positivo: “alguns atletas que tinham suspendido a atividade regressaram este mês e ainda aparecem três atletas novos masculinos e duas femininas. Fizeram dois ou três treinos e agora vamos ter de lhes dizer que vamos fechar as portas…”.
“Resta-nos depois, na medida do possível, tentar retomar o trabalho, tentar cativar os miúdos, fazer captação junto das escolas, campanhas de sensibilização… É esse tipo de trabalho que teremos de por em prática para não deixar cair o clube, a modalidade e evitar que os miúdos se afastem das atividades saudáveis”.
PREOCUPAÇÃO COM A COMPETIÇÃO
António Faria mostra-se ainda “muito preocupado com a Competição” e explicou: “antes da decisão do novo confinamento os calendários foram reajustados e tinham previsto a extensão por mais um mês , ou seja, em vez de terminar a nove de maio, isto para quem chegar às finais, terminaria a 10 de junho. Mais um mês implica muita coisa, envolve muitos meios, independentemente, dos apoios que a FPB decidiu atribuir aos clubes, ainda este mês, mas não é suficiente para cobrir as despesas que os clubes têm. Temos que encontrar formas de arranjar dinheiro para colmatar os gastos com este mês extra”.
“Com esta paragem não sei em ponto vai ficar” disse António Faria, que lembra que “a FPB tinha previsto três fins de semana para compensar os jogos em atraso, como agora não se podem realizar, não sei como tudo isto vai ficar. Certo é que os clubes têm compromissos com os seus jogadores e tem de haver uma decisão rápida da FPB, para saber o que se vai fazer. Se vão cancelar os campeonatos, se vão suspender enquanto o confinamento durar. Acho é que tem de haver uma resposta rápida da FPB”.
António Faria assume que “não queria estar no papel da FPB, não é uma situação fácil de gerir, mas é importante que tomem uma decisão rápida para os clubes saber com o que contar. Nós, por exemplo, temos jogadores estrangeiros e temos de decidir o que fazer”.
CONFINAMENTO? “NÃO PERCEBO OS CRITÉRIOS”
Quanto ao confinamento, António Faria confessa: “não percebo os critérios. Não estou a julgar, apenas a verificar os factos… as escolas estão a funcionar, mas os clubes não podem ter as portas abertas. Nós seguimos todas as regras, que serviram até agora. Aliás está confirmado que o problema não é dos clubes, o desporto não é responsável por focos de infeção, se assim fosse também as escolas o seriam. Depois fica a questão, nas escolas as crianças não vão ter educação física? Não percebo os critérios. Estas decisões só prejudicam o desporto…”