“Sonho arbitrar competições internacionais de relevo e ser uma referência no futuro a nível nacional” disse Diogo Martins, a ‘estrela’ da arbitragem da Associação de Basquetebol de Braga, que é já uma confirmação no panorama da arbitragem nacional.
Diogo Martins, que conseguiu na época passada a licença de árbitro internacional (FIBA), começou a sua carreira de sucesso na arbitragem aos 13 anos, quando aceitou o repto de um dirigente do Braga Bola Cesto para tirar o curso de árbitros. O ‘bichinho’ da arbitragem – passado talvez pelo pai, árbitro de futebol – começou a mexer com o jovem atleta de basquetebol, que aos 16 já estava a apitar na Festa do Basquetebol… daí para cá foi sempre a subir, mas sempre com os pés bem assentes no chão, até porque Diogo Martins tem objetivos na arbitragem do Basquetebol: arbitrar competições internacionais de relevo e ser uma referência a nível nacional.
“A ÉPOCA FINDA ACABOU POR DEIXAR UM SENTIMENTO AGRIDOCE”
Diogo Martins partiu para a época 2019/20 com muitas expetativas. Era a primeira época como árbitro internacional, mas a pandemia adiou todos os sonhos….
“A época finda acabou por deixar um sentimento “agridoce”. Esta foi a minha primeira época como árbitro internacional (FIBA), e as expectativas eram mais elevadas em comparação com anos anteriores. Não só pelo facto de ter oportunidade de arbitrar no estrangeiro e de me dar a ”conhecer”, mas sobretudo para ter a oportunidade de evoluir mais e melhor no panorama nacional. A interrupção antecipada das competições veio congelar uma época que imaginava ser de maior progressão” disse Diogo Martins.
Para Diogo Martins o objetivo da época passava por “dar continuidade à evolução e conseguir uma maior afirmação. A pandemia veio suspender o trabalho realizado de uma época inteira. Acabou por ser de certa forma uma época frustrante, não senti que fosse uma época desportiva que me permitisse evoluir o que eu desejava. Não tive oportunidades que numa época desportiva normal teria, como seria apitar nos Play-Offs, Jogos de decisão de subidas/descidas, Campeonatos Europeus Jovens, etc”.
RENOVAR A LICENÇA INTERNACIONAL E CONTINUAR A EVOLUIR
Quanto à nova temporada, que está prestes a arrancar, o jovem árbitro de Braga está consciente das dificuldades que o esperam: “a próxima época desportiva vai ser difícil” e explica que “a Federação Internacional (FIBA) renova as licenças dos árbitros internacionais a cada dois anos. Neste caso, a minha licença internacional é aplicável às épocas desportivas de 2019-2020 a 2020-2021, sendo que na presente época desportiva, o Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Basquetebol irá indicar à FIBA os juízes para as épocas desportivas 2021-2022 a 2022-2023”.
“Uma das grandes metas que tenho é a renovação da licença internacional no final da época 2020-2021 e continuar o trabalho que estava a efetuar até à altura de paragem. Para além disso, outro dos objetivos é tentar aproveitar todas as oportunidades que me forem concedidas, tanto em termos de nomeações nacionais como nomeações internacionais”, disse ainda Diogo Martins.
Diogo Martins, que tem uma carreira de sucesso na arbitragem, confessa-se ambicioso e, garante, “quero continuar a progredir o máximo a cada época” e adiantou: “qualquer pessoa ambiciona sempre por mais e eu não fujo à regra. Sonho arbitrar competições internacionais de relevo e ser uma referência no futuro a nível nacional”.
CARREIRA NA ARBITRAGEM COMEÇOU AOS 13 ANOS
O árbitro bracarense, de 27 anos de idade, enveredou pelo Basquetebol aos 10 anos e aos 13 descobriu a arbitragem.
“O meu trajeto no basquetebol começou quando tinha 10 anos, quando era jogador de minibasquete do Braga Bolacesto Clube (que mais tarde se tornou o Sporting Clube de Braga). Na altura em que era do escalão de Iniciados, tinha 13 anos, um dos dirigentes do clube convidou toda a equipa a tirar o curso de árbitro de basquetebol. Eram tempos em que existia falta de árbitros na Associação de Basquetebol de Braga e o objetivo era potencializar o maior número de miúdos a tirar o curso, para que se conseguissem ter árbitros nos jogos dos diversos escalões de formação” disse Diogo Martins, que adiantou: “tive a oportunidade de ser bem acompanhado numa fase inicial, comecei a tomar gosto pelo ‘hobbie’ e ao mesmo tempo ia recebendo o feedback positivo àquilo que fazia. O gosto foi crescendo e os primeiros passos começaram a ser dados”.
De resto, Diogo Martins já conhecia bem o meio da arbitragem: “a arbitragem já estava presente na minha casa, porque o meu pai era na altura árbitro de futebol da III Divisão Nacional. Eu já estava habituado a ver aquela rotina de o ver a ir para os jogos ao fim de semana, algumas das vezes até o acompanhava. Provavelmente o bichinho veio daí”.
Diogo Martins teve uma carreira ascendente na arbitragem. Iniciou-se aos 13 anos e até aos 16 “o meu percurso foi o de aprendizagem e ganhar responsabilidade. Aos 16 anos, tive oportunidade de ir às Festas do Basquetebol, que para além de serem uma montra aos jovens jogadores de cada distrito, são também uma montra ao sector da arbitragem. Foi nessa altura que tive oportunidade de me mostrar, dos outros me verem em campo e de me avaliarem. Por sorte, logo no primeiro jogo que fiz, tive oportunidade de ser avaliado pelo Rui Valente que era na altura o presidente do Conselho de Arbitragem da FPB. O feedback foi positivo, ia-me dando umas dicas em campo e eu ia aplicando”.
CONVIDADO PARA O PROJETO ‘POTENCIAIS TALENTOS’
“No ano seguinte, com a entrada do Valdemar Cabral a presidente do CAD de Braga, sou convidado a entrar num programa especial de acompanhamento a jovens juízes que se chama ‘Potenciais Talentos’. O programa consistia num grupo de 12 jovens árbitros de diversos pontos do país em que durante a época realizavam quatro formações presenciais, com provas teóricas, práticas e físicas. No final da época os que mais se destacavam, tinham oportunidade de promoção a árbitro nacional de 2.ª Categoria”, ou seja, “aos 17 anos consegui esse feito, estava no equivalente à 3.ª Divisão Nacional (CNB1). O trajeto a partir dessa altura era através de avaliações em jogo e pelo método de classificação no final da época”.
Diogo Martins foi evoluindo e aos 21, “consegui a promoção para o grupo de juízes da 1.ª Categoria nacional, onde tinha oportunidade de arbitrar a 1.ª Liga e a Proliga. Aos 26, consegui a licença de árbitro internacional, para as épocas de 2019 a 2021”.
“A ARBITRAGEM FEZ-ME GANHAR AMIZADES QUE ME VÃO ACOMPANHAR PARA A VIDA”
Interrogado sobre quais os momentos que guarda com mais carinho do seu percurso da arbitragem, Diogo Martins referiu que “a arbitragem fez-me ganhar amizades que me vão acompanhar para a vida, fez-me conhecer novos locais, fez-me viajar, fez-me crescer enquanto pessoa”. E quanto aos momentos menos bons…“vêm sempre de jogos menos conseguidos, épocas menos conseguidas, objetivos não concretizados. Quando, por exemplo, chego ao final da época e não sinto o reflexo daquilo que trabalhei”.
Ser árbitro não é, de todas, a tarefa mais fácil para quem está no desporto. Diogo Martins salienta que em Portugal ainda há realidades diferentes entre as várias Associações e continua a haver falta de árbitros.
“A realidade da Associação de Basquetebol de Braga é diferente da realidade de outras associações com um maior número de juízes. Para um jovem árbitro uma das grandes dificuldades existente é a falta de acompanhamento. Vivemos numa altura em que continuamos com falta de juízes na nossa associação, e muitas das vezes, os jovens árbitros não conseguem ter o acompanhamento dos colegas com mais experiência. Não têm ninguém que lhes possa mostrar o que fazer, como o devem fazer, como melhorar alguns pormenores. Acabam por não ter ninguém que os defenda das intervenções dos treinadores, dos adeptos, dos jogadores e é meio caminho para uma eventual desistência desta atividade da modalidade. Para árbitros de associações de dimensões mais reduzidas, esta é uma realidade”.
Portanto, “há uma dificuldade na evolução por falta de acompanhamento, por não ter oportunidade de arbitrar com alguém que possa ajudar a pôr em prática aquilo que aprendem nas formações nacionais”.
ÁRBITRO E FORMADOR
Para além de árbitro, Diogo Martins é também o responsável pela formação de árbitros, um trabalho que desempenho com o mesmo afinco como arbitra.
“Durante a presente época já tinha feito parte do plano de formadores da FPB, contribuindo nos cursos de iniciação para novos juízes. Para a presente época, estará a ser preparado no CAD Braga um plano de acompanhamento e formação aos juízes, no qual me compete a organização de formação”, disse Diogo Martins.
Portugal tem hoje árbitros em quantidade e qualidade no Basquetebol?
“A nível nacional é notório que existem juízes com muita qualidade e em quantidade para a reformulação dos quadros de juízes num curto espaço de tempo. O próprio Conselho de Arbitragem da Federação tem apostado na formação dos juízes que estão nos quadros nacionais com perspetivas de progressão nacional e internacional”, disse aquele árbitro, que adiantou que “existem dois grupos de trabalho de preparação para a possível inclusão de juízes nos quadros internacionais. Um dos Grupos, tem sete juízes que efetuam jogos da 1ª Liga e que podem ser apostas para inclusão nos Quadros Internacionais já do próximo biénio; O outro grupo, composto por 14 juízes que atualmente atuam na Proliga (2.ª Divisão) são a aposta para o futuro”.
“Os grupos de trabalho são coordenados pelo Rui Valente (Instrutor da FIBA), e consiste na análise de clips de vídeo dos jogos do nosso campeonato, no qual os juízes devem responder através de texto às situações que lhes são apresentadas, esse trabalho tem como forma, a tentativa de uniformizar o critério entre todos os juízes, para que determinada situação seja arbitrada da mesma forma por todos os elementos”, acrescentou.
CONTINUA A SER DIFÍCIL CAPTAR JOVENS PARA ÁRBITROS
Diogo Martins, que é um exemplo de sucesso na captação de jovens para a arbitragem, considera que “continua a ser difícil captar jovens para a arbitragem” e explicou: “os clubes lançam os convites aos jogadores e aos seus encarregados de educação para que possam tirar o curso de arbitragem de basquetebol, mas a mensagem nem sempre chega ao destinatário da forma como deveria chegar. Sou apologista de uma maior abertura entre o sector da arbitragem com os clubes, no sentido pedagógico. Tenho a certeza de que muitos dos encarregados de educação se conhecessem melhor o funcionamento de uma equipa de arbitragem, no que consiste, como são as regras, o funcionamento dos aparelhos eletrónicos, entre outros fatores, talvez pudessem até enveredar por este sector. Para muitos pode ser algo simples e ser até uma forma de acompanhar o crescimento dos seus filhos na modalidade por essa via”.
Diogo Martins lembra que “no passado, aquando do início de uma nova época desportiva, um clube convidou-me para ir explicar aos seus jogadores, de forma pedagógica, as alterações que tinham existido às regras. Muitos desses miúdos nunca tinham falado abertamente das dúvidas que tinham com um árbitro de basquetebol. Sei que após essa sessão pedagógica mais de metade dos jogadores que estavam presentes nessa sessão acabaram por tirar o curso de arbitragem”.
“FALTA AINDA A APOSTA NA FORMAÇÃO”
O que falta então para haja cada vez mais e melhores árbitros?
“Falta ainda a aposta na formação, o acompanhamento, o espírito de sacrifício por quem seguir por esta vertente. Pedagogia para quem lidar com os jovens árbitros, tanto no campo como na bancada. Isto tudo numa fase inicial, porque é a partir desta altura que se começa a ganhar o gosto na parte da arbitragem. Aceitarem o desafio de tirar o curso e o querer aprender”.
Cada vez mais os árbitros têm uma grande importância no jogo e na formação dos atletas. Sente que há um certo cuidado em transmitir esses valores aquando da formação dos árbitros?
“Sim, sobretudo nos jogos que dizem respeito a escalões de formação entre os 14 e os 16 anos. Tentar mostrar aos jogadores a parte pedagógica que, por vezes, eles só podem sentir no campo quando apitamos alguma infração que cometem. Os árbitros mais experientes têm por norma esse cuidado e é a mensagem que tentamos de certa forma transmitir quando arbitramos com árbitros mais jovens, para que exista esse cuidado também por parte deles”.