Garantir o menor número de abandonos, manter a ligação afetiva ao clube e dar continuidade ao Basquetebol em Barcelos são as principais metas do BC Barcelos para a Formação.
“A Formação é um desafio. É aí onde estão as preocupações principais e aqui estarei a falar por todos os treinadores…Infelizmente não é uma preocupação política e governamental e não me refiro apenas ao que diz respeito ao Basquetebol. Existe em Portugal uma falta de cultura desportiva, que vai para além do que são as modalidades federadas e do desporto escolar”, começou por afirmar Pedro Maio, coordenador técnico da Formação do BC Barcelos, que adiantou que “ainda temos muito que fazer. Não somos como os espanhóis, nórdicos…que têm projetos muito interessantes na Formação e que Portugal podia copiar. Mas não. Aqui o desporto e muito, principalmente, a Formação não são opção, nem são olhados como uma forma de recuperar o país”.
O BC Barcelos está sem competição há um ano e os treinos, que apenas podiam ser individuais, estão agora, e mais uma vez, suspensos. O clube tem-se desdobrado em iniciativas para manter os atletas ligados ao clube, à modalidade e ao desporto.
Pedro Maio, coordenador técnico da Formação do BC Barcelos (desde os Sub-14 aos Seniores; José Luís é o coordenador do Minibasquete), salienta que o projeto do clube baseia-se em três vetores: “primeiro queremos garantir o menor número de abandonos na modalidade. Não tem sido fácil, pois não estamos a viver uma situação normal e não se trata apenas e só dos jovens, mas dos pais e da situação porque estão a passar. Neste momento só tenho de elogiar o papel dos treinadores do BC Barcelos, porque se mantêm firmes” e explicou: “nós somos como um barco, mesmo quando há problemas, o comandante não abandona. Nós, treinadores, seremos os últimos a abandonar o barco. Queremos passar o vínculo”.
PEDRO MAIO “MANTER UMA LIGAÇÃO AFETIVA AO CLUBE”
Como segundo vetor Pedro Maio adiantou a ligação afetiva: “a nossa ideia é manter uma ligação afetiva ao clube. Há coisas que são difíceis, jovens com menos motivação e aquilo com que nos confrontamos, cada vez mais, é que nos estamos a tornar numa sociedade mais fria, com menos contato, menos toque e isso leva a um maior distanciamento e até ao afastamento dos atletas. Se não houver uma ligação afetiva, que os ligue, efetivamente, ao clube, ao grupo, será difícil manter os atletas menos motivados”.
“O terceiro vetor é a continuidade do clube. É fundamental para nós, enquanto clube, agarrar todas as oportunidades que poderão surgir. Temos vindo a investir na comunicação do clube, a dinamizar as atividades. Primeiro temos de construir uma relação com os nossos atletas, manter os treinos online, lançar-lhes desafios para depois ter essa ligação com o exterior” disse Pedro Maio, que lembrou que “o BC Barcelos é um dos clubes de competição da cidade de Barcelos. Nós competimos na cidade com outros clubes de outras modalidades (exemplo Óquei de Barcelos). Já ganhamos o nosso espaço e é importante manter o Basquetebol implementado em Barcelos. É importante para os jovens terem a oportunidade de poderem praticar Basquetebol”.
Afirmando que “o BC Barcelos já tem uma história bonita”, Pedro Maio lembrou que “por aqui passaram muitas pessoas, que singraram na modalidade, que cresceram nas profissões que escolheram e que aqui viveram de princípios e experiencias que foram determinantes para a sua vida”.
TREINADORES MANTÉM CONTACTOS COM ATLETAS
Longe dos pavilhões há mais de um mês, e confinados em casa, os atletas do BC Barcelos têm seguido o plano de trabalhos traçado pelos treinadores. Pedro Maio explica que “desta vez optamos por estratégias diferenciadas. Tentamos manter os atletas ativos, porque isso é importante. Eles têm um plano de treinos físicos, mas depois cada equipa segue o seu ritmo” e explicou que “cada equipa tem a sua dinâmica, ou pela idade dos atletas, pelo perfil do treinador, por várias razões. Então cada treinador tem a liberdade de seguir o seu próprio trabalho. Ser diferente não é problema, desde que sejam atingidos os objetivos. E aqui o essencial é manter o vínculo atleta/clube, portanto, depois se lhe chamam treinos ou encontros…é indiferente. O importante é receber o feedback positivo dos atletas”.
Considerando que este “é um processo exigente e que há coisas que só poderão ser avaliadas mais tarde”, Pedro Maio mostra-se consciente que “o prolongar do confinamento vai tornando a tarefa cada vez mais difícil. Neste momento, os atletas continuam a aparecer aos treinos online, a enviar videos dos seus treinos, mas nós sabemos que o prolongar do confinamento vai desgastando, vai tornando tudo mais difícil e nem todas as famílias são iguais. Há miúdos que, por várias razões – conjuntura familiar, casas sem espaços onde possam driblar, sem poder sair -, começam a ficar cansados e desmotivados. O que nós lhes temos tentado dizer é que mesmo que não possam fazer tudo, não desistam e que façam alguma coisa. Nós temos de ser uma solução e não um problema. Mesmo em relação à equipa Sénior, acontece estarmos em reunião e ao mesmo tempo uma ou outra atleta ter de acabar os seus trabalhos. Não podemos complicar”.
Pedro Maio refere que “o trabalho online escravizou-nos um pouco mais, estamos mais ligados ao trabalho. Nos jovens isso veio criar mais obstáculos sociais. Estamos a viver um tempo dificil, que passa, inclusive, por problemas do ponto de vista financeiro e económico. É um desafio que temos de saber respeitar, apoiar e estimular os atletas a estar presentes. Temos de ser um aspeto positivo na vida deles. Não estamos cá para complicar”.
“A RETOMA DOS AFETOS”
O coordenador do BC Barcelos sabe que mais importante que ensinar Basquetebol neste momento, é manter uma ligação afetiva com os atletas…ser a parte positiva na vida daqueles que dão vida ao clube…
“No pós primeiro confinamento, quando retomamos a atividade e começamos, lentamente, a abrir os treinos à Fomação, lembro-me de pensarmos que nome dávamos a essa fase…e eu disse logo é a retoma dos afetos. E agora temos de manter essa ideia. É importante e determinante manter os afetos. Senão tivermos esta conquista dos afetos, vamos perder atletas. Os que são muito vinculados não desistem, mas há sempre os jovens que são diferentes, que ainda não estão muito motivados, ligados. Então temos que manter a comunicação com eles”.
Quanto à evolução dos atletas e da própria modalidade, Pedro Maio não tem dúvidas: “claro que vão-se perder aqui algumas coisas, há etapas de evolução sequênciais que sofreram aqui uma interrupção, há momentos que se perdem e que vão demorar o seu tempo a recuperar. Mas nós não podemos olhar para o copo meio vazio. Temos de olhar para o copo como meio cheio e olhar para o futuro com otimismo”.
“Temos de perceber que tivemos uma diminuição na relação com o jogo, por isso, vamos ter que fazer tudo calmamente. A avaliação deste momento vai ser feita daqui a quatro, cinco anos. E aí é que poderemos fazer uma comparação. Agora o importante é regressar aos treinos porque com os treinos, e tempo, conseguimos colmatar tudo isso. Temos bons exemplos de atletas que começaram tarde a praticar desporto e conseguiram atingiram patamares elevados. Vai ser um desafio para o futuro”, disse o coordenador da Formação do BC Barcelos.
O DESAFIO DE CAPTAR NOVOS ATLETAS
Outros dos desafios será a captação de jovens valores… “os clubes estão a ficar muito vazios, estão a perder muitos atletas e algumas perdas não são recuperáveis. Há faixas etárias em que vai ser difícil recuperar, por várias razões. Depois há o ciclo da renovação, a entrada de novos atletas…que não estando a ser feita vai dificultar o trabalho futuro. No BC Barcelos e muito graças ao trabalho fantástico do José Luís e do restante grupo, conseguimos, na janela do pós primeiro confinamento, ter agumas entradas novas. Não vai colmatar os atletas que se perderam, mas já é alguma coisa. Quando tudo reabrir vamos ver como vai decorrer…o importante era não haver mais nenhum confinamento”.
Pedro Maio acredita que “quando a vida voltar ao normal vai haver aqui uma janela de oportunidade para os clubes e as modalidades. Alguns jovens vão estar mais sensíveis para a prática do desporto, os pais vão querer que os filhos pratiquem uma modalidade para se tornarem mais saudáveis”. Claro que “também teremos o inverso…com alguns atletas/pais a acomodarem-se à situação e a preferirem manter-se fora do desporto e do corre-corre para os treinos”. Até porque “e a ciência vai comprovar, estes confinamentos vão deixar um rasto gigantesco de sedentarismo e de sobrepeso, que não vai ser fácil de ultrapassar. Os jovens estão em casa, alguns com poucos cuidados de alimentação, pouco movimento e sem grandes condições de manter algum tipo de exercício. Quando voltarem a praticar desporto não vão estar em condições saudáveis para fazer o que mais gostavam…mas teremos que os motivar para conseguirem ultrapassar esta grande dificuldades”.