“Nesta fase o mais importante é mesmo manter o espírito de equipa e manter as atletas ligadas ao clube e à modalidade” disse Jorge Ramôa, treinador das equipas femininas (Sub-14 e Sub16) do Grupo Desportivo André Soares.
Os dois grupos mantiveram-se a treinar com regularidade e bastante assiduidade até ao confinamento, determinado pelo governo há cerca de semana e meia.
“Até ao confinamento treinamos dentro do programa estabelecido. Os treinos, apesar das limitações devido à pandemia, estavam a correr bem. Um dos grupos estava mais motivado do que outro, mas a participação nos treinos era muito boa” referiu Jorge Ramôa, que adiantou que “agora estamos parados. Vamos tendo alguns contactos, mas, para já, não estamos a seguir nenhum pano de trabalho”.
Jorge Ramôa salientou que “este segundo confinamento é bem diferente do primeiro. Na primeira paragem as atletas podiam treinar ar livre, estava bom tempo e então conseguiam fazer os exercícios no exterior. Desta vez isso não é possível”.
De resto, “nem a motivação é a mesma. Há um ano que estamos sem competição e no desporto a competição serve de motivação para se treinar. Hoje em dia os atletas não têm a mesma vontade e predisposição para trabalhar”.
“TRABALHAR O ESPÍRITO DE EQUIPA E MANTER LIGAÇÃO AO CLUBE ”
Por isso, Jorge Ramôa decidiu avançar para este segundo confinamento sem um plano de treinos…“nesta fase decidimos não avançar com qualquer plano de trabalhos ou contactos muito regulares, como o fizemos no primeiro confinamento. Vou ver como isto corre, o tempo que irá durar. Se não houver uma evolução positiva, então avançaremos com um plano na perspetiva, mais do que trabalhar Basquetebol, trabalhar o espírito de equipa, manter a ligação entre elas, ao clube e à modalidade”.
Para Jorge Ramôa “nesta fase o mais importante é mesmo manter o espírito de equipa e mantê-las ligadas à modalidade, o que não é fácil porque já todos estão saturados e desmotivados com esta situação. No primeiro confinamento não foi tão difícil assim manter os grupos unidos, agora vai ser mais e isso vai trazer dificuldades em trabalhar à distância, em manter todos unidos”.
Depois será o recomeçar do zero? “Não será, propriamente, um começar do zero, mas será muito próximo disso. Teremos de fazer um reatar diferente, com objetivos diferentes. Sabemos que não há tanta motivação porque já não há competição há, praticamente, um ano. E a competição é o objetivo final, é o que motiva e leva os atletas a empenharem-se nos treinos. Hoje, claramente, os atletas estão mais desmotivados, principalmente, os mais velhos, que sentem mais a falta da competição” disse Jorge Ramôa, que exemplificou: “com a criação do Campeonato Distrital de Sub-21 notou-se uma mudança de atitude no treino dos atletas, o que não aconteceu nos outros escalões que não puderam competir…o que é estranho porque nos Açores já se estão a realiza competições e aqui nem podemos treinar normalmente”.
“A PERCEÇÃO QUE TENHO É QUE NÃO VAMOS TER DESISTÊNCIAS”
Receia que depois desta nova paragem, e dependendo do tempo que durar, possa perder atletas? “Eu acredito que os dois grupos vão voltar aos treinos mal seja permitido. É verdade que um está, claramente, mais motivado do outro. Num dos grupos as miúdas iam aparecendo com regularidade aos treinos, mas isso já era algo que esperaríamos que acontecesse. Nas mais velhas há uma dificuldade maior porque se não temos uma forma de as prender aos treinos, elas acabam por ceder a outros interesses. Seja como for a perceção que tenho é que não vamos ter desistências, tirando uma ou outra miúda que já tinham avisado que iriam sair”.
Afirmando que “tenho tido um bom feedback por parte das meninas” Jorge Ramôa lembrou que “tivemos uma primeira paragem muita ativa, com reuniões e treinos através do zoom, e a primeira coisa que as atletas perguntaram quando souberam que iriamos para um novo confinamento foi se iriamos voltar ao zoom. Optei por não o fazer nestas primeiras semanas, mas se calhar vamos ter de voltar a essa iniciativa”, até porque “sentimos que o que fizemos naquela altura teve algum valor”.
Na altura o GDAS não se ficou pelos ditos treinos, tendo procurado levar algum conhecimento paralelo ao jogo e ao Basquetebol. “Agora será mais complicado, pois não vamos abordar os mesmos assuntos e os temas começam a faltar”, mas “vamos acreditar que na primavera já possamos regressar aos treinos e ao pavilhão”
“DÉFICE DE ATLETAS FEMININAS A NÍVEL ASSOCIATIVO”
Questionado sobre se o Basquetebol feminino vai sair prejudicado, em termos de número de atletas e evolução, de toda esta situação, Jorge Ramôa referiu que “infelizmente, continua a haver um défice de atletas femininas a nível associativo. Acho que em termos de evolução vai parar um pouco porque um ano sem competição assim o determina…há experiências que as atletas estão a perder e não as podem recuperar. Por exemplo, nós temos uma atleta que tinha todas as hipóteses de ir à Festa do Basquetebol em Albufeira o ano passado. Não foi o ano passado, não vai este ano. É uma experiência que não vai ter…este tipo de experiências não são recuperáveis e perde-se aqui algo para estas miúdas”.
Jorge Ramôa salientou, no entanto, que “não há nada a fazer. Temos de viver com o que temos. Vai ser mais um ano em que não trabalhamos a 1000 por cento, mas vamos aproveitar isto para o futuro. Quando tivermos autorização para regressar aos treinos e aos pavilhões temos de fazer um plano, definir objetivos e trabalhar com o que tivermos”.
“TEMOS DE OLHAR O FUTURO COMO MAIS UMA OPORTUNIDADE”
Como vai ser captar atletas depois desta pandemia passar? “A verdade é que já era difícil captar atletas antes da pandemia. Felizmente, o GDAS trabalhou bem, tirou proveitos de algumas coisas que fez e tivemos sorte. Conseguimos captar meninas para fazer dois grupos”.
Jorge Ramôa considera que “temos de olhar para o futuro como mais uma oportunidade e o Basquetebol tem de estar preparado para a agarrar” e explicou que “temos um ano e meio em que muitas crianças e jovens não puderam fazer nada, não tiveram hipótese sequer de se aventurar numa modalidade. Quando tudo isto passar e se puder regressar aos treinos e às competições vamos ter uma base de captação maior do que era até aqui. O Basquetebol e os clubes têm de estar preparados para chamar a atenção dos jovens para a modalidade. Temos de ser diferenciadores em relação a todas as outras modalidades para captar os jovens”.