
O SC Braga faz um balanço bastante positivo daquilo que foi a curta época de 2020. O conjunto bracarense dominou as provas regionais – sagrou-se Campeão Regional de todas as categorias em que participou e conquistou ainda a Taça AVB de Iniciados – e garantiu a presença nos Campeonatos Nacionais, demonstrando assim uma grande evolução das suas equipas. Nas provas nacionais algumas das equipas estavam bem encaminhas para passar à segunda fase.
De negativo desta curta época fica a interrupção das competições que, na formação, pode ser bastante prejudicial na evolução das atletas e no processo de jogo. O SC Braga aceita a decisão da Federação Portuguesa de Voleibol, que deu prioridade à saúde em detrimento do aspecto desportivo/formação, mas refere que havia outras soluções…
CARLOS DIAS: “TIVEMOS MUITOS ASPETOS POSITIVOS”
Carlos Dias, coordenador da formação do SC Braga, lembra que até à suspensão das provas, devido à pandemia do Covid-19, foram muitos os aspetos positivos no SC Braga.
“Posso dizer que até ao momento da interrupção das competições, tivemos muito aspetos positivos no SC Braga. O principal ponto positivo foi a intervenção de todos agentes dos clubes, o segundo foi a prestação das equipas e aqui lembro que todas se apuraram para a fase nacional. Nos Campeonatos Regionais ganhamos vários títulos. O facto de termos ganho e estarmos apurados para as fases nacionais mostra bem que o processo foi bem conduzido”.

De referir que o SC Braga se sagrou Campeão Regional de Juniores, Juvenis, Cadetes e Iniciados. A Escola de Lamaçães, projeto que está interligado ao SC Braga foi Campeão Regional de Infantis. A equipa de iniciados, treinada por José Bastos, venceu ainda a Taça Associação Voleibol de Braga, naquele que foi o único escalão que conseguiu disputar a prova, todas as outras foram canceladas.
Também a campanha nos Campeonatos Nacionais foi positiva, segundo Carlos Dias: “nos Campeonatos Nacionais, as equipas do SC Braga estavam a fazer uma boa caminhada. Algumas estavam bem encaminhadas para atingir as fases finais, o que era importante também”.
“ALTAMENTE NEGATIVO FOI A INTERRUPÇÃO DAS COMPETIÇÕES”
Mas a presente época tem também muito de negativo: “altamente negativo foi a interrupção das competições, mas teve que ser e temos que a aceitar a decisão. Vai ser prejudicial porque as equipas deixam de ter processos. Nós continuamos a preparação, mas sabemos que o processo da equipa foi interrompido”.
Carlos Dias diz aceitar a decisão de cancelar as provas, até porque “já estamos parados há mês e meio e prevê-se que vamos estar parados por mais algum tempo. Ou seja, para regressar à competição precisaríamos de um período de preparação. Quase que se exigia que voltássemos a uma pré-época”.

“As decisões que se tomaram foi no sentido de se evitar que a pandemia alastrasse, mas desportivamente foi um corte com o processo de evolução das atletas e avançar agora para a realização das provas significaria voltar ao início da época. Claro que temos que pesar todas as condicionantes”, referiu Carlos Dias, que adiantou que “poderíamos ter feito intervenções diferentes”.
Carlos Dias explicou que “entendo que nas competições principais tinha que se terminar por aqui devido a todas as condicionantes. Com os campeonatos suspensos até 31 de agosto, não é credível que se jogue mais…com que atletas se iria jogar em setembro? As estrangeiras já regressaram aos seus países, os clubes já estão a preparar a nova época”.
“NA FORMAÇÃO PODIA ADIAR-SE A COMPETIÇÃO”

“Já na formação podia adiar-se a competição mais para o verão. Podiamos jogar em junho e julho e assim não se perderia tudo, todo o processo de formação. Claro que aceito a decisão da FPV. É um período longo de paragem e optou-se pela vertente saúde em detrimento do desportivo”, disse Carlos Dias, que lembrou que “somando o tempo da pandemia, com o mês de agosto e apontando a que se possa começar a próxima época em setembro, é muito tempo de paragem e na formação faz muita diferença. Depois temos que ter em atenção que pode surgir uma segunda vaga”.
“Parece-me que podíamos arranjar uma forma de manter a formação em competição. Nem que se tivesse que arranjar outro formato competitivo. Bem sei que isso, provavelmente, levaria a uma reformulação de todos os regulamentos. Isso implicaria muito trabalho”, referiu o coordenador do voleibol do SC Braga, que continua a pensar que “se calhar na formação seria possível manter a competição”.
“ACEITO E CONCEBO A DECISÃO ”
Apesar de considerar que a formação poderia ainda ter competição esta época, Carlos Dias diz aceitar a decisão da FPV. “Aceito e concebo a posição da Federação Portuguesa de Voleibol. Há mais federações internacionais que tomaram a mesma posição. Digamos que entre o ótimo e o razoável, esta é uma decisão razoável. É uma medida que se aceita e que põe à frente a saúde pública em detrimento da evolução das atletas”.
Questionado sobre se este cancelamento pode levar ao abandono de atletas da modalidade, Carlos Dias referiu que “penso que se vai perder algumas atletas como tem acontecido ao longo dos últimos anos quando se deixa de competir muito cedo. Normalmente, uma boa parte das equipas deixa de competir em meados de maio porque terminam aí os seus campeonatos. No SC Braga, como acontece com outros clubes, continuamos a treinar até julho. Como terminam muito cedo as competições, algumas as atletas acabam por abandonar a modalidade”.

Quanto ao SC Braga: “não acredito que haja desistência. O feedback que tenho tido é que elas estão com uma enorme vontade de regressar ao treino e aos jogos. Sentem saudades. Claro que pode acontecer de uma ou outra atleta, que até mudam de escalão, sentirem que deixam de ter condições para dar continuidade ao processo”.
ATLETAS COM PLANOS INDIVIDUAIS DE TRABALHO
Apesar de já não haver competição há cerca de mês e meio, Carlos Dias garante que as atletas do SC Braga continuam em atividade.
“O futuro do SC Braga não está hipotecado. Foram criados planos de preparação individual para as atletas fazer e, portanto, o voleibol está sempre presente. São planos de preparação física, técnica conforme as posições das atletas. Agora o processo de jogo acaba por se perder porque ninguém joga sozinho”.

COMO E QUANDO REGRESSAR A COMPETIÇÃO
Outra das grandes questões que se coloca é a das regras de distanciamento e segurança. “Essa é uma questão para as quais não temos ainda respostas. As regras do distanciamento servem para a sociedade civil, mas no desporto é impossível. Até podemos por todas as atletas a desinfetar as mãos, não cumprimentar os adversários, nem haver contacto entre elas durante o jogo. Ter cuidado com a assistência, mas no voleibol a bola vai de mão para mão. É preciso fazer-se algum esforço nas assistências…como vai ser? Vamos esperar que tudo passe ou tomamos medidas para que se possam retomar as competições?”.
PREPARAR A NOVA ÉPOCA… TALVEZ SURJA MAIS UMA EQUIPA
Carlos Dias considera que “estas são pedras que nos colocam à frente e temos que ter a capacidade de as resolver” e quem sabe “se calhar vamos ter um desporto mais forte, atletas mais fortes, pessoas mais abertas para o que é importante para a vida… Podemos melhorar, arranjar meios para investir mais na formação, dar condições às atletas para evoluírem de forma a que possam jogar nas seniores. O nosso projeto passa, essencialmente, por formar boas pessoas”.
Quanto ao futuro, Carlos Dias garantiu que o SC Braga já está a preparar a nova época “já estamos a trabalhar na próxima época, nas mesmas equipas… talvez criar mais uma equipa. Queremos reforçar as condições e o clube está ciente que é preciso dar um passo em frente do que já foi dado”.
PREOCUPAÇÃO COM OS PATROCINADORES
Outros dos aspetos que mais preocupa Carlos Dias é a questão dos patrocinadores… “estou muito preocupado com a questão do retorno dos patrocinadores. De repente parou tudo e tenho receio que num futuro próximo as mesmas pessoas não tenham vontade de patrocinar, por muitas razões. Não nos podemos esquecer que muitas pessoas investiram nas modalidades e com esta crise e com o desespero que ela vai provocar, provavelmente, apoiar os clubes não estará nas suas prioridades. Isso vai dos clubes um esforço maior. Temos que criar formas de minimizar o problema”.