
O Bragalona estreou-se esta época no Campeonato Nacional da II Divisão de Futebol Feminino. A estreia não foi a esperada, não pelos resultados, mas mais por tudo o que antecedeu o arranque da prova.
A formação de Braga, que aposta, essencialmente, na formação, viu sair, no defeso, nove das melhores atletas para clubes de outras dimensões, sem que disso tenha tirado qualquer proveito. Mesmo assim o clube presidido por José Manuel Pereira recusou-se a desistir e decidiu avançar com a equipa sénior. Os resultados não foram os melhores, em 14 jornadas a equipa bracarense venceu apenas um jogo, mas no final o balanço é mais que positivo porque o Bragalona é muito mais que um clube de futebol…
JOSÉ MANUEL PEREIRA “AVANÇAMOS COM A EQUIPA SÉNIOR A CONTAR COM TODAS AS ATLETAS, MAS…”
“O Bragalona decidiu avançar este ano, e pela primeira vez, com a equipa sénior e fizemo-lo a pensar que as atletas que tínhamos no nosso plantel se iriam manter. No entanto, nove das melhores atletas, aquelas que fariam parte da equipa base do Bragalona saíram para outros clubes”, começou por referir José Manuel Pereira, presidente do clube bracarense.
José Manuel Pereira adiantou que “houve clubes que estão nos nacionais – casos do Vitória SC, Famalicão, Gil Vicente e até SC Braga – que decidiram avançar com equipas de futebol feminino e então vieram buscar as atletas que nós formamos. Elas iludidas pelos nomes dos clubes saíram”
“Nesta luta os clubes pequenos não têm hipóteses. Andamos a formar atletas para esses grandes clubes. Cobiçam as melhores, levam-nas e os clubes pequenos nem são ressarcidos, nem protegidos. É muito bom que apostem no futebol feminino, mas não é desta maneira que o promovem. Há clubes, como nós, que trabalham a sua formação e depois vêm todo o seu trabalho, tempo com as meninas e empenho ser desrespeitado. É nem somos ressarcidos, nem um obrigado sequer, de um pai ou de uma mãe, das atletas. Isso deixa-me um pouco triste”, disse aquele responsável, que lembrou que nesta ‘luta’, os grandes do futebol “vão buscar as melhores atletas, os treinadores e não lhes acontece nada”.
José Manuel Pereira lembrou o exemplo: “tivemos uma atleta que nós formamos, que o ano passado foi chamada à seleção nacional e fui eu que a levei ao treino na seleção, paguei as despesas do meu bolso. No final da época foi para o SC Braga e nem um agradecimento. Não é que isso pague alguma coisa, ou que o Bragalona precise do agradecimento, mas merecemos respeito. Eu sei que o símbolo do SC Braga é maior, mas nós fomos o clube formador”.
O Bragalona só terá direito a alguma coisa se um dia as atletas fizerem contrato profissional, até lá o clube que tem a seu cargo mais de 160 atletas de formação (femininos e masculinos) tem que se esforçar para conseguir manter as equipas em ação.
“TENHO UM ORGULHO ENORME DE TER ESTE GRUPO”
“Na altura ficamos com sete atletas… hoje temos 28. Entretanto, fomos buscar a equipa técnica que estava no Vitória SC. A equipa tem vindo a melhorar e muito e conseguimos ganhar um jogo para o campeonato. Não nos podemos esquecer que a maior parte das meninas que compõe o plantel nunca tinham jogado à bola. Tenho aqui atletas com mais de 40 anos e um caso em que jogam mãe e filha. É uma equipa que merece todo o nosso apoio e aplausos”, referiu aquele responsável.
Afirmando que “tenho um orgulho enorme de ter este grupo”, José Manuel Pereira garante que “os resultados negativos nunca afetaram a equipa. Temos uma equipa muito motivada, que dá o litro nos treinos e nos jogos. Elas sabem que se não ganhamos os jogos é porque o adversário é mais forte”.
FUTEBOL DE FORMAÇÃO E CIDADANIA
O Bragalona possui, atualmente, duas equipas de futebol feminino: as seniores e a equipa de Sub-17. Tem ainda outras meninas a jogar que fazem parte das várias equipas de futebol masculino de formação.
“Nós somos um clube que aposta no futebol de formação, mas também na cidadania e na formação cívica. Nós temos atletas que fazem parte de uma fundação outros do CS Padre David, que não têm pais, ou por alguma razão estão afastados dos pais. Nós vamos buscá-los a casa para virem treinar. E temos outros pais, que de forma anónima, contribuem para que eles possam jogar e nada lhes falte. Eles não são diferentes, nem são tratados de forma diferente. Eles estão integrados nas equipas, no clube. Para nós isso é bem mais importante que qualquer resultado”.
SEM APOIOS DO MUNICÍPIO
José Manuel Pereira considera que “o Bragalona tem responsabilidade social e faz aquilo que as instituições, Juntas de Freguesia e Câmaras deveriam fazer e não fazem, mas infelizmente na hora de apoiar o Município de Braga não tem em atenção o nosso trabalho” e lembrou que “a Câmara Municipal de Braga oferece todos os anos viaturas, o Bragalona deve ser dos primeiros a entregar toda a documentação e nunca recebeu nada. Aliás o apoio é zero e depois vemos associações desportiva, que estão nos nacionais, a receberem apoios exorbitantes”.
José Manuel Pereira confessa que “para fazer face às despesas temos uma luta árdua todos os meses. Só na renda do campo, que pertence ao Município, são 700 euros. Depois temos tudo o resto e nós trabalhamos com a formação, com miúdos e meninas que precisam do nosso apoio. Por exemplo, o futebol feminino não paga nada ao clube, mas nós não deixamos faltar nada. Claro que temos a nossa publicidade quer nos equipamentos, quer estática. Mas é um conjunto grande de despesas e nós temos que arranjar soluções”.
TRABALHO ÁRDUO
De referir que o Bragalona conta com um grupo de 160 atletas, entre o futebol feminino e futebol de formação. Os atletas aprendem e jogam futebol, mas tem que cumprir com as suas obrigações: “faço questão que os atletas mostrem as notas dos testes aos treinadores. Se tirarem más notas treinam, mas não jogam. Se tiverem mau comportamento também ficam suspensos de treinar e jogar. É uma forma de os ajudar a encontrar o caminho certo”.
Neste momento, o futebol no Bragalona está suspenso, mas as meninas têm o seu plano de treinos para fazer em casa e José Manuel Pereira acredita que “vamos sair mais fortes de toda esta situação. Não só nós, Bragalona, como todo o povo português. O país vai saber dar a volta rapidamente a tudo isto, porque somos pobres, mas somos muito fortes”.
“NOVIDADES EM BREVE”
Relativamente ao futuro do Bragalona, José Manuel Pereira não tem dúvidas… “teremos novidades em breve. Há um grupo de investidores que pretende investir em Braga e no clube e, por isso, acredito que o futuro será mais risonho. Quanto ao regresso à competição não sabemos como e quando vai acontecer, mas estaremos prontos quando isso acontecer”. Para já está agendado o jogo da Taça Promoção para o dia quatro de abril com o Ponte de Barca, jogo que deverá ser adiado novamente… “esse jogo esteve marcado e a FPF queria-nos obrigar a jogar quando todos os jogos da formação já estavam suspensos. Só foi adiado porque a Câmara Municipal de Ponte da Barca fechou todos os espaços devido ao coronavírus. Mas mais uma vez houve aqui um tratamento desigual. Nós temos nove equipas, oito não podiam sequer treinar e as meninas tinham que ir jogar a Ponte da Barca. Nós avisamos que não iriamos porque em primeiro estava a proteção das meninas, mas depois tudo se resolveu”.
